É fato que tatuagem não muda caráter nem interfere na qualidade do trabalho executado pelo colaborador. É igualmente fato que quem marcou a pele com a arte das agulhas já pensou duas ou muitas vezes antes de exibir os seus desenhos permanentes no trabalho, por mais delicados, coloridos e belos que fossem.
Embora o preconceito contra a tatuagem venha diminuindo sensivelmente nos últimos anos no Ocidente, pesquisas e a percepção dos RHs demonstram que cobri-la (quando isso é possível) ainda faz diferença na hora de disputar uma vaga concorrida ou de pleitear uma promoção.
Cabeça, pescoço e rosto ainda são os locais do corpo que causam mais aversão entre os não tatuados
Publicado recentemente pela Skinfo.com, um dos infográficos mais completos sobre o tema, intitulado Tattoos in the workplace the good, the bad, and the ugly (Tatuagens no local de trabalho, o bom, o ruim e o feio), revela que 37% dos diretores de RH dos Estados Unidos creditam à tatuagem “um fator limitador de carreira”.
E olhe que estamos falando de um país com 45 milhões de tatuados, em meio a 320 milhões de cidadãos.
Exatos 42% dos entrevistados dizem que “a tatuagem em local de trabalho é inapropriada em colaboradores de qualquer idade” – ao passo que esse número dispara para 63% quando se fala de pessoas de 60 anos ou mais.
Entre os jovens de 18 anos a 25 anos, a reação negativa também é considerável: “tatuagem em local de trabalho é algo inapropriado” para 22% dos entrevistados.
Nos Estados Unidos, 94% dos tatuados dizem ter coberto seus desenhos no trabalho
“Ao profissional, cabe, em primeiro lugar, estar ciente daquilo que se quer comunicar e isso inclui a tatuagem. Mas ter a tatuagem aceita no trabalho depende da cultura organizacional da empresa e esse aspecto também determina se o que prevalece é a competência técnica e comportamental em detrimento ao aspecto físico”, diz a coach e headhunter da Neoplan RH Maria Almeida Garcia ao Tribuna Paraná Online.
Políticas sobre piercings e tatuagem podem variar de uma empresa para outra, sob o argumento (certas vezes, velado) de que os desenhos podem distrair os colegas e “pegar mal” junto aos stakeholders.
Quando se trata do mercado educacional ou de entretenimento para crianças e adolescentes, como escolas, clubes e acampamentos de férias, professores e monitores que ostentam grandes tatuagens ainda são orientados a esconde-las.
No campo médico, portar desenhos na pele não impede o profissional de progredir na carreira, mas as regras para esconde-los são cada vez mais rigorosas. Não é incomum, em grandes hospitais ou clínicas particulares do Brasil e do exterior, que gestores peçam a médicos e outros profissionais que as ocultem “para não gerar desconfiança entre os pacientes”.
“Tatuagens devem ser cobertas durante as horas de trabalho para garantir uma aparência profissional consistente. A política do Sistema de Saúde da Califórnia é clara: qualquer tatuagem que pode ser ofensiva deve ser coberta por roupa, um band-aid ou maquiagem”, informa, por escrito, a The Cleveland Clinic.
Mark Brenner, vice-presidente sênior de assuntos externos de outro grupo americano, o Apollo Group, endossa: “Dependendo das tatuagens, se são muito visíveis ou de natureza ofensiva, elas podem ter um impacto sobre o profissionalismo”.
Em resposta a essas e outras posturas ditas discriminatórias, uma campanha publicitária foi realizada no Estados Unidos com fotos de médicos com e sem suas tatuagens à mostra. O resultado, de fato, impressiona:
Contra a discriminação, nenhuma Lei
No Brasil, o projeto de Lei nº 1582, de 2007, do vereador Edson Duarte do Partido Verde (BA), acrescenta um dispositivo à Lei nº 9.029, de 1995, que proíbe a discriminação de pessoas portadoras de tatuagem e piercing.
A Lei de 1995, por sua vez, proíbe a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso a relação de emprego, ou sua manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar ou idade.
O projeto de Edson Duarte segue engavetado.
“Você contrataria alguém com tatuagem?””
Ainda no Brasil, o Núcleo Brasileiro de Estágios –Nube investigou se os futuros gestores do País, com idade entre 15 anos e 26 anos, selecionariam tatuados para as suas empresas. A pergunta ““Você contrataria alguém com tatuagem?””, feita a exatos 14.225 jovens, revelou números surpreendentes:
Se por um lado sobram desconfiança e preconceito no mercado, por outro, existem empresas já reconhecidas por ser tattoo-friendly. O levantamento da Skinfo.com traz 36 delas, algumas delas multinacionais presentes no Brasil:
Na dúvida sobre como ostentar a sua tatu? Então siga os três conselhos de dez entre dez RHs que lidam com o tema em processos seletivos e no dia a dia das principais empresas nacionais:
Ou, como sempre advertem os próprios tatuadores: think before you ink!
Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/